Campinas, 26 de Abril de 2024
PERFIL: MÃE SEM FRONTEIRAS
07/05/2017
Notícia publicada na edição n.108 do Jornal Alto Taquaral
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Texto: Cibele Aguiar

Esqueça os estereótipos. Essa é mais uma crônica do cotidiano, escondida em um canto da cidade, que vale a pena ser compartilhada. Porque fala de persistência. Maria do Carmo Martinez Motta tem 70 anos. Nas últimas quatro décadas, dedica-se a reunir pessoas em torno de uma causa nobre: o cuidado com moradores em situação de rua. Imagine 40 anos, na vida de uma mãe que expandiu o conceito de família, conquistando amigos sem fronteira social, de raça ou gênero. Do cuidar de um filho, ao cuidar do outro!

Maria do Carmo está à frente do projeto social Turma da Sopa, que serve em torno de 200 refeições aos frequentadores da Casa da Cidadania, local de acolhimento na Vila Industrial. Nos três primeiros dias de todas as semanas, uma sopa nutritiva é preparada com todo zelo, na cozinha que fica nos fundos do Santuário Nossa Senhora Desatadora dos Nós, no Jardim Santa Genebra. É aqui o ponto de encontro das equipes responsáveis por preparar e embalar os alimentos.

Maria do Carmo sempre está lá, como elo central e forte que mantém unida a rede. É a referência para um conjunto diversificado de pessoas, que também carregam histórias de superação, agradecimento, entrega, solidariedade e fé. E um vai ajudando o outro, no trabalho voluntário e na vida. O preparo dos alimentos é acompanhado de uma boa conversa, e o tempo passa rápido para todos que colaboram. Juntos eles rezam, contam seus medos e vitórias, pedem conselhos, trocam receitas, experiências.

Quem é novo no grupo, logo vai tomando parte da família, vai conhecendo a rotina do projeto e o ciclo solidário não cessa. Não falta comida, não falta gente para ajudar, não faltam pessoas famintas. Maria do Carmo presente, sempre com um sorriso, uma palavra, a permanente disposição para solucionar. E diariamente tece novos vínculos para que a rede se fortaleça. Ela está sempre em busca de doações, parcerias, inovações. Não se trata de uma contribuição passageira, um olhar fugaz para o próximo. Para ela, a empatia é rotineira e tem história.  

E com o mesmo carisma, atravessa a cidade para entregar a sopa e todo o conforto que ela representa. Na Casa da Cidadania, outra equipe já espera o veículo e, com agilidade, o alimento é distribuído, com pão, suco, sobremesa. Roupas pra quem precisa, orientação, incentivo, uma conversa fiada, um abraço. Há noites em que a saudade pode estar em uma carta, voluntariamente escrita e entregue ao seu destino.

Também aqui, eles rezam juntos, contam medos e vitórias, pedem conselhos, fazem amigos. E se estabelece uma nova rede, que logo se desfaz pelas ruas da cidade. Uma rede para a maioria das pessoas, invisível. Não para Maria do Carmo, que volta para casa e tem o descanso merecido. Ela continuará alerta, programando as ações necessárias para as próximas refeições.

Nas horas vagas, é mãe de dois filhos, paparica três netos e tem um monte de amigos. Escondida em um dos apartamentos do bairro Mansões Santo Antônio, há quem nem imagina a história dessa mulher guerreira, que ousou o senso comum do amor materno e contagiou um monte de gente. Junto dela tem outras tantas pessoas incríveis, que se encontram para fazer o bem. Apenas isso.  

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