Campinas, 27 de Novembro de 2024
PRÊMIO FEAC 23
02/12/2023
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A JORNALISTA CIBELE VIEIRA EM REGISTRO PRÓPRIO SOBRE O PREMIO

 "Um momento de homenagens ao trabalho jornalístico com foco em pautas socioambientais foi realizado
nesta sexta (1/12) durante a cerimônia de premiação do Prêmio Feac de Jornalismo. Concorreram 58 reportagens
produzidas por 43 jornalistas, com o tema "Iniciativas que Transformam Territórios". Na categoria Mídia Impressa f
oi premiada a matéria “Esperança é cultivada em horta suspensa do Progen”, publicada pelo jornal Correio Popular.
No jornalismo On-Line venceu “Um futuro em outra casa”, publicada no Jornal da Unicamp pela jornalista Adriana Vilar.
A série “De andorinha em andorinha, o centro de Campinas vive os desafios de uma revitalização”, veiculada na Rádio CBN Campinas p
or Maria Carolina Garcia Rodrigues levou o troféu da categoria Rádio. Na modalidade Televisão ganhou “O poder transformador do livro”,
exibida na EducaTV Campinas por Viviane Novaes. O troféu Produto Universitário foi para a estudante de jornalismo Steffani Lira,
da UNIP Campinas, com a matéria “Cursinhos populares vão além da grade comum e ensinam sobre direitos e cidadania".

NOTÍCIA SOBRE O PREMIO NO CORREIO POPULAR




A REPORTAGEM PREMIADA

Esperança é cultivada em horta suspensa do Progen

Projeto Gente Nova procura recuperar área contaminada do bairro Satélite Íris

Cibele Vieira/ cidades@rac.com.br
21/01/2023 às 10:41.
Atualizado em 21/01/2023 às 10:41

Um bairro seco, quente pela falta de árvores com suas sombras, carente de vegetação, com a terra contaminada. Tão triste, que as crianças gostavam de passar pelo cemitério só para admirar as árvores e as flores. Esse é o quadro pintado pelos usuários do Projeto Gente Nova (Progen) do bairro Satélite Iris, na região Noroeste de Campinas. Uma situação que educadores, apoiados pelas crianças, tentam mudar. Eles já plantaram mais de 80 árvores nas praças dos arredores, distribuem mudas de flores e folhagens para as famílias, e junto com as crianças ensinam a cultivar as verduras e legumes que elas consomem. Mas os cultivos são feitos em vasilhames suspensos, para não ter contato com o solo local, contaminado por resíduos tóxicos. Devagar, em função da escassez de recursos, eles fazem um trabalho de educação ambiental com resultados que já podem ser vistos nos arredores e no envolvimento da comunidade.

Fabricio Roberto Bellini, 36 anos, atua no Progen desde 2001 como educador e observava a falta de conhecimento e afinidade das crianças com a natureza, em função da falta de convívio. Em 2017 participou de atividade com uma professora e crianças que foram conduzidas a conhecer as plantas do bairro. “Na época não tínhamos ideia do tamanho que essa proposta poderia alcançar, já havíamos plantado e cuidávamos de algumas árvores espalhadas aos arredores da entidade, mas não frutíferas, por causa da contaminação”, ele conta. Essa contaminação (por metais e coliformes fecais) do solo e das águas subterrâneas é consequência da área ter abrigado, durante mais de uma década, um aterro sanitário - depósito de lixo urbano – sem qualquer cuidado ou fiscalização, rendendo um saldo perigoso de metano (um gás toxico) no solo.

 

Àrvore X Oxigênio

Foi a partir do encantamento das crianças durante o passeio e a observação da carência de plantas no bairro, que nasceu o projeto “Plante uma árvore e ganhe oxigênio em troca”. O primeiro passo foi o trabalho de conscientização com as crianças sobre a importância das arvores, a necessidade dos cuidados com elas e os ensinamentos sobre a produção de mudas, sempre alertando para não usar a terra local e não plantar espécies comestíveis. “Esses conceitos eles levaram para suas famílias – pois o trabalho do Progen visa fortalecer essa integração – e o trabalho ambiental criou força, sempre focado na vida: a das plantas, a dos animais e a das pessoas”, relata Fabrício. Ele conta que nesse trabalho foram abordados também questões de políticas públicas “usando o próprio Satélite Iris como exemplo, pois apesar do bairro ter 60 anos, ainda é carente e não recebe um olhar político”.

O segundo passo foi a produção de mudas de árvores, flores e folhagens para distribuir para a comunidade. Com a falta de recursos, os educadores compravam terra e dividiam os custos, e junto com as crianças faziam as mudas em copos descartáveis, em latas, potes de margarina, garrafas plásticas, sacos de embalagens de mantimentos e outros objetos encontrados no lixo reciclável. “A gente utiliza tudo que pode servir de recipiente para as mudas”. Paralelamente ao trabalho de produção de mudas, nasceram novas lições para serem trabalhadas, como a importância do reuso das coisas, a separação do lixo de reciclagem e o encaminhamento correto dos resíduos. O educador comenta que “o projeto trabalha a preservação ambiental, então tudo é lição”. Durante a pandemia, ao fazer uma limpeza no local, os educadores se desafiaram a criar uma horta.

Do sonho a realidade 

Entretanto, esta não poderia ser uma horta comum, por causa da contaminação do solo. “Nunca tínhamos trabalhado com plantas comestíveis, então para nós também foi um aprendizado”, conta Fabrício. Eles separaram um pequeno espaço no fundo da entidade e montaram uma estrutura para horta suspensa com os materiais encontrados no local, compraram terra saudável e começaram a plantar verduras, legumes e ervas medicinais, além de frutíferas em diferentes recipientes. “Nosso sonho, o desejo real, era alcançar espaços maiores, poder ter uma grande horta que abastecesse os usuários da entidade e suas famílias, mas temos limitações de toda ordem. Então fizemos o que era possível”.

Esse ‘possível’ que Fabricio relata avançou bastante. Hoje eles colhem alface, almeirão, rúcula, cenoura, beterraba, rabanete, e outras verduras e legumes que são usados no almoço das crianças que frequentam o projeto no contraturno escolar. Também os temperos, como salsinha, coentro, gengibre e açafrão saem desses cultivos, onde tem espaço ainda para os chás e ervas medicinais compartilhados com as famílias. Grandes latas e baldes descartados viraram vasos para mudas de romã e acerola, que já produzem frutos para sucos, e até flores comestíveis eles já experimentaram.

O educador argumenta que “é importante para as crianças e adolescentes conhecerem esses produtos, experimentarem, valorizarem o trabalho de plantio, conhecerem a diversidade vegetal e nutricional para identificarem seus gostos e preferencias pessoais, além de aprenderem a encontrar soluções para diferentes situações”. A distribuição de mudas de plantas medicinais para a comunidade acontece sob demanda, quando alguma família solicita. Mas agora o grupo tem feito também mudas de plantas ornamentais para que os alunos levem para embelezar suas casas. Fabrício e Marineuda Felix, que também trabalha no Progen, tiveram a ideia de florir o local com margaridas, girassóis, plantas ornamentais e suculentas. “Nosso grande objetivo é que esses educandos compartilhem com suas famílias essa educação ambiental que eles recebem, além de fortalecer os vínculos entre eles”.

Outro objetivo do trabalho que os envolvidos querem ampliar é incentivar mais plantios. “Queremos ampliar essa distribuição, pois como o bairro é contaminado, temos pouca arborização, por isso na medida do possível plantamos arvores nas praças e oferecemos para as pessoas plantarem nas suas ruas, com a ideia de ter mais sombra e vida no espaço coletivo”. Uma parte da rua do Progen já recebeu mudas de ipês branco e amarelo e ganhou mais vida e colorido, atraindo espécies de borboletas, beijaflores e maritacas. Como o olhar de quem sonha sempre vai mais longe, agora eles pensam em, futuramente e talvez com mais apoio, avançarem na construção de uma composteira protegida para reciclar totalmente o lixo orgânico produzido na entidade. “Para isso precisamos de terra externa ou matéria seca para fazer a composteira virar e melhorar a nutrição das plantas, mas no momento não temos recursos para buscar esses materiais’, comenta.

Projeto Gente Nova

O Projeto Gente Nova (Progen) é uma Organização da Sociedade Civil que nasceu em 1984 na região Noroeste da cidade. Trabalha com crianças, adolescentes, seus familiares e a comunidade, prevenindo situações de risco e violação de direitos. Para isso mantém de forma continuada um trabalho de desenvolvimento em várias áreas, com espaços de convivência e formação para cidadania.

O que começou como um apoio as crianças que pegavam sucata em troca de alimentos se estruturou com o apoio das Irmãs Salesianas da região. Elas identificaram que a fome deles ia além da comida, havia fome de cidadania e garantia de direitos sociais. Hoje são quatro unidades que realizam aproximadamente 2.581 atendimentos diários voltados a pessoas em situação de vulnerabilidade e risco pessoal e social.

Além da proteção básica, o trabalho acompanha em duplas psicossociais as famílias com direitos violados em busca de soluções. E mantém com as crianças e adolescentes, em contraturno escolar, atividades diversas como Capoeira, Circo, Dança, Informática, Artesanato, Culinária, Esportes, Brincadeiras entre outras. Além dos espaços das unidades os usuários dos serviços exploram e se apropriam de espaços da comunidade como praças, centros comunitários e quadras.

Um bairro contaminado

A Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) explicou, por meio de nota, que o vazadouro conhecido como "Lixão da Pirelli" (localizado na Rua Dante Erbolato esquina com a Rua Dr. Carlos Marcia) é uma área que foi utilizada pelo município - no período entre 1974 a 1984 - para disposição de resíduos diversos, sem controle ou técnicas de aterramento e em valas para disposição de efluentes líquidos.

Isso provocou contaminação de águas subterrâneas (por metais e coliformes fecais) e presença de metano no solo, o que justifica as restrições como não ingerir ou ter contato com a água subterrânea e os riscos por confinamento de metano em ambientes fechados. A contaminação só foi constatada em 1994, por estudos realizados por empresa contratada pela Prefeitura.

Desde então a área foi inserida no Cadastro de Áreas Contaminadas da CETESB, com a classificação de ‘área contaminada com risco confirmado’, limitando o uso da terra e exigindo monitoramentos frequentes. A Secretaria Municipal do Verde confirma a contaminação e explica que a área que ficou conhecida como ‘Lixão da Pirelli’ porque se situa em uma área vizinha à indústria. E informa que o monitoramento da água subterrânea e do córrego que passa nas proximidades, é acompanhado por órgãos municipais, que também alertam os moradores sore os riscos para saúde.

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