EMPRESAS ACELERAM PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO DIGITAL PARA SOBREVIVER AOS IMPACTOS DO CORONAVÍRUS
Mudanças nos hábitos de consumo forçam entrada de empresas no comércio eletrônico; especialistas confirmam tendência para o futuro e dão dicas às empresas
A mudança nos hábitos de consumo da população, resultante das medidas de isolamento social para conter o avanço do novo coronavírus (covid-19), forçou empresas de diferentes segmentos e portes a ingressar no comércio eletrônico, seja na criação de plataformas de compras on-line, seja na divulgação de seus produtos nas redes sociais. A transformação digital, que vinha sendo empregada gradativamente por grandes varejistas, virou questão de sobrevivência na pandemia e deve se consolidar ao término da crise, avaliam especialistas.
As limitações de acesso ao comércio, como shoppings, restaurantes e academias, impuseram às empresas uma reestruturação de seus negócios por meio do fortalecimento de novos canais de venda, não se limitando aos espaços físicos, que seguem sem prazo definido para retomar suas atividades. Até os consumidores que resistiam às opções de compra pela Internet hoje se curvam ao modelo de comercialização, que oferece praticidade inclusive aos clientes mais exigentes.
De acordo com estudo da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABCOMM), que analisou o comportamento de 4 mil lojas virtuais nos períodos pré e pós-pandemia, o e-commerce exibiu aumento de 40% nas compras diárias só no mês de abril. Embora os gráficos apontem a reação dos segmentos de moda e calçados, as altas mais importantes se referem aos produtos essenciais, como aqueles vendidos em farmácias e supermercados.
Divulgado na última segunda-feira, 18 de maio, um levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), indica a tendência de manutenção de tais hábitos mesmo ao final da crise provocada pelo coronavírus. Na pesquisa, 70% dos entrevistados exprimiram interesse em continuar comprando on-line de forma mais intensa após a quarentena.
Docente na disciplina ‘Administração de Ambientes Virtuais’, A Profa. Dra. Celeste Aída Jannuzzi avalia que a tendência deve mesmo se confirmar. Para ela, muitas pessoas evitavam as compras on-line por inseguranças nas transações financeiras no meio eletrônico, mas agora descobriram a facilidade e comodidade propiciada pelo ambiente digital, descoberta que deverá prevalecer no comportamento do consumidor.
“Mas essa visão deve ser ampliada e ir além das compras on-line. Vale observar que os serviços de profissionais na área da saúde, com a telemedicina, da educação, com as aulas remotas, entre outros, tiveram alto grau de interatividade proporcionado pela Internet, que se mostra grande aliada ao exercício de suas profissões. A resistência a essa forma de atuação diminuiu de forma expressiva e a percepção de facilidade toma proporções significativas ao público em geral”, diz a professora.
Embora acredite que o mercado ainda dará espaço aos ambientes físicos, a professora enaltece os benefícios do e-business: maior controle e coordenação das operações com o uso de sistemas de informações computadorizados, abertura de novos canais de venda com o e-commerce etc. “Os empresários devem olhar o e-commerce como uma ampliação dos seus canais de venda, de comunicação com o cliente. Um atendimento personalizado de um para muitos, ocorrendo de maneira simultânea, como se fosse de um para um, é o que o ambiente virtual permite que a empresa faça”, destaca.
A alternativa, contudo, não é acessível a todos. Segundo o Prof. Me. Roberto Brito, da Faculdade de Ciências Econômicas da PUC-Campinas, a inserção ao meio digital é cercada de barreiras aos novos entrantes. “Empresas grandes e estruturadas, que possuem plataformas mais adequadas de atendimento e oferecem maior segurança ao consumidor, especialmente do ponto de vista da logística e da entrega, levam muita vantagem. Comércios menores, por exemplo, têm iniciado nesse contexto de forma rudimentar, ofertando produtos em status de WhatsApp, por exemplo, sendo mais difícil atingir o público e se manter competitivo no mercado”, afirma.
O economista reitera, ainda, que os empresários, principalmente de empresas de menor porte, devem ficar atentos ao comportamento de mercado antes de investir em novos canais. “Muitos equívocos são cometidos quando a migração não é bem planejada. Na devastação sempre existe oportunidade, mas nem sempre os retornos são garantidos. Neste momento, é necessário levar em consideração o contexto econômico de retração da atividade e dos impactos da covid-19 na renda da população, que pode passar a consumir menos”, pontua Brito.
Para minimizar os riscos do ingresso ao comércio eletrônico, a professora Celeste apresenta três passos fundamentais:
Pesquisa de mercado
Antes de abrir seu negócio, faça uma pesquisa minuciosa do mercado. Veja quem são seus concorrentes. Isso é muito fácil de realizar pela Internet. Os sites dos concorrentes, os sites de notícias e as redes sociais são excelentes fontes de informação para se conhecer e acompanhar o mercado concorrente e, também, o mercado consumidor.
Planejamento
Ter claro que o negócio não se resume às vendas. É mais do que necessário pensar na logística, ou seja, nos recursos e informações que a empresa irá precisar para realizar bem as suas operações. Outro ponto que deve ser considerado é que o planejamento, além da venda e entrega do produto vendido, deve também preocupar-se sobre como proceder com a devolução do cliente, se houver.
Interação
O ambiente digital de negócios permite uma interação preciosa com o seu consumidor. Faça uso desse recurso, dê significado para as informações que pode coletar dessa interação. Não deixe a informação passar despercebida, como acontece quando apenas o sistema computadorizado é o responsável pelas respostas. Faça uso efetivo das informações, identifique e responda às necessidades do seu cliente. O ambiente digital de negócios lhe traz em mãos um bem precioso que é a informação, mas ela somente se transformará em inteligência se for usada e interpretada em todas as situações na sua empresa.