Campinas, 24 de Abril de 2024
ESPÓLIO DA ATHOL FAZ A TRISTEZA DE MUITOS E A ALEGRIA DE POUCOS
28/08/2010
Notícia publicada na edição n.28 do Jornal Alto Taquaral
Aumentar fonte Diminuir fonte
Descaso da Justiça garante abrigo a desempregados

 
No comodo, sem janelas, utilizado como cozinha, os amigos se reunem na hora das parcas refeições.
A energia elétrica chega aos três graças a um “gato” que já havia no local.
“Bastou colocar o soquete, rosquear a lâmpada e pronto”, diz Cristiano
 
Quem passa pelo bairro Mansões de Santo Antonio percebe que enquanto novos condomínios ascendem do chão, esqueletos de alguns prédios abandonados se afogam no esquecimento. Porém, quem passar com um olhar mais atento pela Rua Adelino Martins, na altura do n. 500, vai perceber uma estrutura inacabada que durante a noite, tem pequena parte iluminada. O local, que já abrigou outros moradores de rua, hoje é o lar de três pessoas: o casal Cristiano Rodrigues e Roselena da Silva, grávida de cinco meses, mais o amigo Nilson dos Santos.
 
O trio mora no local há aproximadamente dois anos, em uma casa improvisada com luz elétrica, aparelho de som, TV, fogão, camas etc. “Tudo comprado com o suor do meu trabalho”, diz Cristiano, que trabalha como vigia de carros. Outras necessidades básicas, como água e alimentos, o grupo consegue com doações voluntárias. Os R$ 30 que ele ganha por semana para cuidar do carro de um cantor da região, é maior que o salário anterior: R$ 10 por semana como servente de pedreiro.
 
Segundo Cristiano, os que sabem da moradia no local não os incomodam, pois eles evitam que bêbados ou viciados usem o prédio como abrigo.
 
“Nunca tivemos problemas aqui e os únicos visitantes que recebemos de vez em quando é o pessoal que faz rapel no prédio”, revela. Mesmo com a precariedade do local, ele considera “mais seguro do que a rua”. Mas explica que não pretende ficar por muito tempo no local. “Eu só estou esperando a Roselena ter o filho para voltarmos para São Paulo”, garante.
 
Três histórias, um destino
 
Paulistano do bairro do Jaçanã, Cristiano veio para Campinas em 1979 trabalhar de caseiro em uma residência na Rua das Hortências, na Chácara Primavera. Quando a casa foi vendida, há cerca de dois anos, ele ficou sem emprego e sem teto, e decidiu mudar para o prédio abandonado.
 
Nessa época freqüentava a praça “Quebra Osso”, em frente ao terminal central de Campinas, quando conheceu Roselena e Nilson. Ficaram amigos e ele os convidou para morar no seu novo abrigo. Roselena afirma ter naturalidade africana, mas sua identidade revela que nasceu no sul de Minas, na cidade de Botelhos. Com histórias desencontradas, como o fato de ter sido vendida ainda criança para uma família, ela conta que já viajou em busca de emprego, por São Paulo, Poços de Caldas, Limeira e, por fim, Campinas.
 
Nilson dos Santos, o amigo do casal, é natural de Araguari (MG) mas mudou ainda criança para Goiânia (GO) com a família e veio há alguns anos para Campinas tentar a vida. Ele também trabalha como guardador de carros.
 
O espólio da Athol
 
O prédio abandonado deveria ser o Condomínio Residencial Rio São Francisco, da construtora Athol, lançado em 1996. Dois anos depois a empresa faliu e deixou os compradores na mão, pois dos 150 apartamentos colocados à venda, 86 eram da construtora, que mesmo falida não abriu mão dessa parcela e impediu a retomada da construção. Há 13 anos os compradores brigam na Justiça para tentar recuperar o investimento. O advogado Marcos Benasse conseguiu registrar o pré-contrato dos compradores mas não viu nenhuma evolução do processo nos últimos dois anos.
 
 
 


  Última edição  
  Edição 188 - 18/03/2024 - Clique para ler  
© 2024 - Jornal Alto Taquaral - CG Propaganda