Campinas, 28 de Março de 2024
RUAS DE CAMPINAS NO MAPA DA DITADURA
01/12/2017
Notícia publicada na edição n.115 do Jornal Alto Taquaral
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 CAMPINAS ESTÁ NO MAPA -  Nas rua do Brasil, a ditadura ainda vive

Na matéria disponibilizada pela Agência Pública de Reportagem e Jornalismo Investigativo em https://apublica.org/assunto/ditadura/ é possível acessar através de mapas as ruas, no Brasil, com nomes de ditadores e em Campinas estão visíveis a Avenida Presidente Costa e Silva com o personagem descrito assim: “Marechal de Exército. Foi presidente de 1967 a 1969. Editou o Ato Institucional Número 5, base legal da repressão contra opositores, em 1968. Em seu governo, foi criada a Operação Bandeirante, espécie de braço inicial dos DOI-CODI, que usava tortura como método de investigação e repressão. Nomes como Sérgio Fleury e Carlos Brilhante Ustra, considerados culpados de violações de Direitos Humanos pela Comissão Nacional da Verdade, estiveram entre os comandantes da institutição”.

Curiosamente a avenida fica na Vila Costa e Silva, um bairro na Região Leste de Campinas, tendo ao norte o Jardim Santa Genebra, a nordeste o Shopping Parque Dom Pedro, ao sul a Vila Miguel Vicente Cury, a leste o Alto do Taquaral.

Campinas homenageou também o presidente Castelo Branco com nome na Vila Castelo Branco, bairro da Região Noroeste de Campinas, tendo ao norte o Jardim Garcia, ao sul o Jardim Londres, a leste fica o Jardim Pauliceia e a oeste está a Vila Padre Manuel da Nóbrega. A sudoeste passa a Avenida John Boyd Dunlop.

 OUTROS HOMENAGEADOS

A Agência Pública destaca ainda a Rua José Rodrigues como homenagem ao soldado da Polícia Militar do estado de Minas Gerais. Fez parte da equipe policial que reprimiu a manifestação de trabalhadores da Usiminas, em Ipatinga (MG), em 1963. Atirou contra uma multidão de cerca de 5 mil pessoas.

A Rua Antônio Ferreira Marques que ocupou diversos cargos de chefia durante o Regime Militar. Foi Chefe de Estado-Maior do II Exército entre 1974 e 1976, Comandante da Primeira Região Militar de 1978 a 1980, Comandante do III Exército entre 1980 e 1981, e Chefe do Estado-Maior do Exército em 1981 e 1982. De acordo com a Comissão Nacional da Verdade, pertencia à cadeia de comando responsável por crimes contra os direitos humanos.

 HOMENAGENS PROIBIDAS

 O vereador Augusto Petta  teve projeto transformado em na Lei 14.675 de 9 de setembro de 2013 dispondo sobre acréscimo de inciso à Lei 13.543/2009 proibindo que vias, próprios e logradouros públicos sejam homenageados com nomes de pessoas que cometeram crimes de lesa humanidade ou violações de direitos humanos.

A Câmara Municipal aprovou e o Prefeito do Município de Campinas, sancionou e promulgou a seguinte lei:

Art. 1º - O art. 2º da Lei nº 13.543, de 23 de março de 2009, fica acrescido do seguinte

inciso:

“IV - Que a pessoa homenageada não tenha cometido, financiado ou comprovadamente apoiado crimes de lesa humanidade ou violações de direitos humanos.”

Art. 2º -

 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

 NOMES DE VILAS E RUAS

 Sobre as Vilas Costa e Silva e Castelo Branco e ruas e avenidas já denominadas em Campinas o vereador explica que é muito difícil conseguir alterar a realidade pois ainda que algum legislador tenha interesse na mudança, muitos moradores se colocam contrário. “Eles alegam que o nome do bairro e das ruas provocaria alterações que poderiam provocar  complicações no código postal e coisas do tipo. Desta forma acaba ficando como está, apesar de ferir o texto da nova Lei”.

Pelo Brasil afora

Uma rua de menos de 200 metros no centro de São Paulo leva o nome de Vladimir Herzog. Ela homenageia o jornalista que foi torturado e morto pela ditadura militar – que governou o país de 1964 até 1985 – e se constitui em uma pequena exceção: a maioria das ruas que levam os nomes de personagens do período homenageia o lado dos ditadores e seus colaboradores.

É o caso da Avenida Presidente Castelo Branco, parte do complexo de vias que forma a Marginal Tietê, a menos de 500 metros de distância da rua Vladimir Herzog. Ela foi batizada em referência ao general que tomou o poder no Golpe de 1964 – iniciando o processo autoritário que culminaria no assassinato de Vladimir Herzog e de pelo menos mais 433 pessoas, muitas das quais seguem desaparecidas até hoje, sem que seus corpos tenham sido encontrados.

Em todo o território do Brasil, são muitas ruas nomeadas em homenagem a personagens sombrios de nossa história – incluindo aqueles que estão entre os 377 apontados como responsáveis por torturas e mortes pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), um comitê que investigou os crimes do Estado naquele período.

 CAMPINEIRO NA HISTÓRIA

Um dos momentos mais dramáticos da política brasileira nos últimos anos, o impeachment de Dilma Rousseff (PT), foi deflagrado na Câmara dos Deputados. Jair Bolsonaro, campineiro, ex-capitão do Exército e figura proeminente da extrema-direita, estava entre os deputados que votaram contra Dilma – e ele fez isso de maneira controversa.

“Perderam em 1964 e perderam novamente em 2016”, disse Bolsonaro comparando o golpe militar ao impeachment. “Pela memória do Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o terror de Dilma Rousseff […] eu voto sim [ao impeachment]”.

Bolsonaro homenageava o comandante do DOI-CODI de São Paulo, a câmara de tortura e morte que operava contra os inimigos do regime entre 1970 e 1974. Ustra, que há dois anos morreu livre e, segundo ele, sem arrependimentos, é considerado um dos agentes mais violentos das forças de repressão da ditadura.

Suas vítimas descreveram diferentes métodos de tormento, como choques elétricos e a inserção de ratos vivos na vagina de prisioneiras. Em alguns dos casos mais brutais, as sessões de tortura foram testemunhadas pelos filhos e cônjuges dos dissidentes. A própria Dilma passou meses detida em prisões do DOI-CODI nos anos 70 por participar de movimentos de resistência armada.

 

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