Campinas, 25 de Abril de 2024
ARQUITETO ALERTA: POPULAÇÃO PRECISA SE ENVOLVER COM O BAIRRO
23/09/2016
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 SÓ PARTICIPAÇÃO POPULAR GARANTE FUTURO MELHOR

‘Região pode ir da glória à decadência’

Se é importante que todo o município fique atento aos desdobramentos da revisão do Plano Diretor de Campinas, que está em curso atualmente, essa é uma tarefa fundamental para os moradores dos bairros no entorno do Alto Taquaral. E isso porque as medidas que forem oficializadas para a região poderão decretar a glória ou a decadência desse espaço, com óbvios reflexos na qualidade de vida e até no potencial imobiliário e financeiro de terrenos, casas e apartamentos.

A região é especialmente sensível a eventuais mudanças na forma de ocupar os espaços e que também determinarão como os imóveis poderão ser utilizados, se para abrigar apenas residências ou comércio, se serão permitidas indústrias ou escritórios residenciais, entre outros exemplos. Essa vulnerabilidade às normas de uso e ocupação se deve ao que já está acontecendo em grande parte da região, onde o adensamento vertical congestionou ruas e sobrecarregou a infraestrutura.

Se a concentração continuar, sem planejamento, uma região cobiçada poderá sofrer perda de qualidade e atratividade, comenta o arquiteto Fuad Jorge Cury, Diretor Regional do Secovi  (Sindicato da Habitação) em Campinas. Por outro lado, a boa notícia é que esse processo pode ser prevenido e até revertido, com ganhos significativos para os moradores. Providências como o reforço de um núcleo que reúna comércio, serviços e áreas institucionais terá força para reduzir a necessidade de deslocamento, facilitando a vida e desafogando ruas. No mesmo sentido vai a liberação e até estímulo para a instalação de escritórios nas residências, reforçando a já crescente tendência de trabalhar em casa.

Mas para que tudo isso se viabilize, orientando o desenvolvimento e a ocupação dos bairros, é preciso que as determinações do Plano Diretor englobem os conceitos urbanísticos e as determinações legais que darão base para essa nova realidade. E é aí que entra a participação determinada da população local, que precisa não só se fazer presente como também conhecer a realidade local, pensar em possibilidades e desejos para o futuro, buscar conhecimento, debate e, claro, lutar pela aceitação de suas propostas.

Palavra de especialista

Todas essas reflexões partiram de um profissional com larga experiência no ramo imobiliário e no planejamento urbanístico, além de conhecedor de projetos de cidades mundo afora, o arquiteto Fuad Jorge Cury. Diretor Regional do Secovi  (Sindicato da Habitação) em Campinas, ex-secretário de Planejamento, membro de Conselhos como o CMDU (Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano) e o Concidades e integrante do IAB (Instituto dos Arquitetos) seção Campinas, Fuad é antigo batalhador na luta por uma Campinas melhor.

E toda essa experiência o transformou em defensor aguerrido do planejamento urbano baseado em dois requisitos: a consideração do todo, com um olhar que englobe a cidade por inteiro, e a preocupação em planejar pensando no futuro. “Campinas já deve ser olhada como macrometrópole regional, com todas as interações e conseqüências trazidas por essa posição”, diz, defendendo a primeira premissa.

Reafirmando enfaticamente a sua segunda convicção, diz que “não se faz planejamento pensando em dez anos. Temos que ver como estaremos, e como queremos estar, em 2030, em 2050”. Mas alerta: “as decisões precisam ser reavaliadas constantemente, frequentemente, para as correções de rota necessárias”.

Aprender com o passado

Embora acredite que não adianta apontar erros, “temos que olhar para o futuro”, pode-se deduzir da fala de Fuad que os dois parâmetros defendidos por ele não foram olhados com cuidado no que diz respeito à região do Alto Taquaral, Mansões Santo Antônio e adjacências. A infraestrutura, em especial o traçado viário, foi pouco considerado na aprovação de edifícios. Da mesma forma, é preciso também tomar cuidado com o espraiamento dos condomínios, porque quanto mais distantes, mais difícil e caro levar infraestrutura, segurança, transporte.

O arquiteto e urbanista questiona: “que cidade vamos construir para incorporar, com sucesso e visando obter qualidade de vida, todas essas mudanças? Estamos muito atrasados, nosso sistema de planejamento não dá conta de pensar adiante, ainda estamos presos a modelos antigos, com uma estrutura pública que mal dá conta do andamento dos papéis, sem tempo nem condições para realmente planejar, pensando à frente. E apenas a mobilização popular, unindo profissionais e população em geral, pode mudar essa situação”.

Texto: Monica Monteiro

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